Tuesday, December 8, 2009

Etapa 11: San Roman de Retorta - Melide 30 kms

02/06






A jornada deverá ser dura até Melide, são 30 kms. A meteorologia promete 35°C.
Cuido de uma bolha da Fabiana. Eles ficam agradecidos, mas na verdade não fiz nada. Eles não tinham a experiência e os materiais necessários.
Eles saem primeiro, eu fico mais um pouco para preparar os sanduíches para o caminho.
São 8 da manhã e tem muita neblina, que ajuda a fazer da paisagem uma coisa bem misteriosa. Fotografo sem dúvida.





Paro em Ponte Ferreira, com uma antiga ponte romana, pelas 10:15.
Muitas subidas e descidas, mas a temperatura está agradável. Na altura de Merlan deixo passar um sinal do caminho...
E fui perceber que estava no caminho errado somente 3 kms depois... O que me significaram 6 de penalização. E o problema seria enfrentar o calor.
É já meio dia e o sol escaldando. Caminho até umas 13:30. Não parei, passo por paisagens lindas, com um antigo hospital de peregrinos no alto de uma montanha. Continuo, faço uma curva para começar a descida e uma garota de uns 25 a 30 anos que estava na porta de sua casa me pergunta se quero água, café ou algo. Chama-se Mapi, ou Maria Pilar.
Ela me convida para entrar, fico meio indeciso, mas o cansaço e a sede falaram mais alto.
Mapi é muito simpática, e tem seis cachorros! E vivem todos dentro da casa. Ela começa a me contar que havia decidido mudar de vida e comprado aquela casa havia 3 anos, depois de fazer o caminho de Santiago.
Me fez lembrar o Arroyo Sambol ou mesmo Manjarin, lugares especiais e meio loucos do caminho francês.
E incrivelmente ela me diz que tinha sido hospitaleira em Sambol...
Conversamos bastante e tomo o habitual Kas de Limon. Ela me fala que aprende violino e que conhece o calendário maia.



Para sobreviver ela faz artesanato e vende aos peregrinos que passam. Me pareceu um bicho grilo, mas vejo que tem a cabeça no lugar. Deixo uns 5 euros de donativo.
Nos despedimos num abraço caloroso. Retomo a caminhada e são passadas 3 da tarde... o que significa que tinha ficado mais de uma hora e meia falando com ela.
O sol piora e não tinha comido nada, tirando a laranja na ponte romana. Vou começando a perder as forças e ainda me faltam uns 14 kms. Paro para comer e repor energias lá pelas 16:00.
Mas o estrago já estava feito com o atraso e o calor. Parece que Melide não chega nunca, mas afinal chego debaixo de um sol terrível e por um caminho mais longo que o francês.
São 18:15 e estou em estado piedoso, mais de 10 horas de caminhada e afinal 36 kms com o desvio.
Estou tão cansado que começo a reconsiderar os meus planos. Penso em não fazer os 30 kms de amanhã e saltar Finisterre. Mas vamos ver.
Nem lavo as roupas. Saio para rever a cidade e ir comer o famoso pulpo do Ezequiel (famosa pulperia, onde sempre havia comido nos outros caminhos). Janto junto com o casal italiano.
E o polvo não me decepciona, está tão bom quanto no passado, embora o restaurante estava bem diferente, renovado e maior.
Conversamos e acompanhamos a festa de uns peregrinos espanhóis que estavam numa outra mesa.
Saímos do restaurante e tomamos um café e orujo. Amanhã será outro dia... até Santa Irene, que está somente a 23 kms de Santiago.










Outras fotos San Roman Melide

Etapa 10: Lugo - San Roman de Retorta 20 kms

01/06







Apesar de o albergue ser muito bom em Lugo, dormi mal por conta de provavelmente um dos maiores roncadores da terra.
Nem escutando o IPOD com fone de ouvido... Tive que mudar de cama.
De manhã acordo com a garganta ruim e sem voz. Espero não pegar uma gripe forte.
O dia amanhece com névoa e assim a cidade fica com um aspecto interessante e assim decido passear por Lugo para fotografar.




Ela me faz lembrar um pouco Santiago. Tomo o café da manhã em um bonito bar e depois vou em busca de uma farmácia para ver se resolvo a questão da garganta e da voz (acabo comprando um remédio para faringite). Aproveito para fazer uma parada num pequeno supermercado e preparar o almoço do dia.
Atravesso uma ponte romana, a temperatura está fresca e coloco o pile para proteger a garganta.
A paisagem está bonita, inicio uma subida em trilha. Ao final desta uma pequena estrada asfaltada.
O sol forte mais a monótona estrada dão o tom do dia. Decido fazer o caminho com calma fui sair realmente de Lugo lá pelas 9:15.
Encontro uma fonte com bancos de madeira, onde me sento e relaxo uns 10 minutos. Logo depois uma indicação de um bar em San Vicente Del Burgo (chamado Searas).
Tomo um café com orujo (aguardente) e começo a conversar com um senhor. Fico meia hora e vejo que ele fala com certa desilusão do caminho, pois este estava muito asfaltado. A senhora do bar me aconselha a tomar um orujo, que faria bem para a minha garganta...
Continuo e a um certo ponto encontro uma indicação de um lugar histórico chamado Santa Eulalia de Boveda.




O meu guia indicavam 3 kms fora da rota, e decido usar a tecnologia para verificar. Com o meu celular acesso a internet e vejo que são na verdade 2,3 kms e assim decido aumentar de quase 5 kms o meu itinerário.
A estrada não era ruim, asfaltada e chego a um pueblo pequenino, sem nada e sem ninguém, mas interessante. No final, vejo que o lugar histórico não é mais que um pequeno templo (ou casa) romano.
Não tem ninguém por lá, apenas um senhor que estava consertando o muro da entrada. Ele me dá alguns folhetos do lugar, dizendo que a construção é romana. Tem apenas uma sala, com uma piscina (ou fonte) na entrada e alguns afrescos. Tiro umas fotos e para variar começo a falar com o senhor, que se chama Casemiro e é casado com uma brasileira de Recife. Conversamos bastante sobre vários assuntos, muito gentil e simpático.
Peço para tirar uma foto dele, que ele aceita sem problemas e um pouco depois me oferece uma carona até o ponto de retomada do caminho. Como ‘bom peregrino’ não aceito muito gentilmente, pois estou bem e prefiro andar.
Fico contente com o ocorrido, pois é o conceito de caminho que tenho na minha cabeça e que gosto tanto. A caminhada segue monótona pelo asfalto. Paro e como algo.
Chego a um bar próximo do destino do dia e bebo um suco de ananás, que com o calor que fazia caiu fantasticamente.
Chegando em San Roman vejo a igreja românica com um cemitério ao lado. Pergunto no bar Jaime onde ficava o albergue, que na verdade é a uns 750 mts mais adiante.
O lugar é especial, a casa é de pedra e fica no meio de um bosque. Entro e encontro os dois primos espanhóis e o casal italiano. Além deles tem mais duas senhoras holandesas.
Nesse dia recebo a triste notícia da queda de um avião da AirFrance que tinha partido do Brasil, com 228 pessoas. Peço a Deus que os proteja.
Decidimos fazer a janta para todos e vamos comprar a comida no bar Jaime, que ficava no pueblo. Começo a tagarelar com o dono, que era galego. A tentativa de falar meio português é sempre complicada, pois o galego não é tão parecido assim. Compramos vinho feito por ele, sem química.
Preparamos a janta juntos e foi uma pequena festa, com os italianos preparando uma bela pasta.
Foi uma bela confraternização, afinal éramos poucos: eu, Tommaso, Fabiana, Marcos e as duas holandesas. O primo de Marcos não estava bem e acabou passando o jantar.



O vinho ajudou um pouco, afinal foram um litro e alguma coisa e ele somente parecia leve...
Ainda voltei ao bar com Tommaso e Fabiana, para selar a credencial e um café. Agora não estava o dono, mas sua esposa, que também era bastante gentil. Para dormir bem ainda tomo um orujo de yerbas, saindo um pouco da dieta, mas poço dizer que mereço.

Outras fotos Lugo San Roman de Retorta

Monday, December 7, 2009

Etapa 9: Cadavo - Lugo 31,5 kms

31/05








Durmo com um calor danado. Acabo tirando a camiseta, mas a escolha não foi das melhores, pois acordo com princípio de dor de garganta.
Consigo sair cedo, pelas 7:30. Mas como a sinalização não estava boa acabei perdendo uns 20 minutos só para sair da cidade.
A manhã está meio fria, e o caminho inicia com uma subida leve. Logo encontro uma fonte.
Pouco asfalto e antes de Villabade uma bela igreja no meio de um bosque. Saio da trilha e vou de encontro a uma fonte que estava na frente dela. Não obstante estava somente com uma hora de caminhada paro, pois o lugar tem um clima especial.





Sigo e chego a Villabade, onde tem outra bela igreja. Mas é domingo e o pequeno vilarejo tem ares de cidade fantasma. Nesses lugares pequenos somente se vê o pessoal que trabalha no campo, pois fim de semana praticamente não existe.
O calor vai apertando, mas por sorte tem muita sombra no caminho.
O joelho não incomodava, provavelmente porque estava aquecido. Em Castroverde paro para tomar um café. O rapaz do bar pergunta se quero que ele coloque um pouco de orujo (aguardente)... Não precisa dizer que aceitei.
Faço umas fotos e sigo em frente, sempre sem encontrar uma alma viva. O caminho segue por pequenas estradas secundárias asfaltadas e algumas trilhas de terra.
Passo por vários pueblos, mas nenhum ponto estratégico onde se poderia sentar para uma parada. Era quase meio dia e começo a me cansar.
Em Gondar vejo uma placa dizendo ‘Bebidas frias’ e fico contente, pois imaginava um bar, mas qual a minha decepção ao ver que era apenas uma máquina de latinhas... no meio do nada.
Consigo parar quando faltam uns 9 kms para Lugo e sinto que estava para se formar alguma bolha no pé.
Almoço e descanso por uns 40 minutos. Continuo com um calor terrível, mas mesmo assim sigo com uma boa velocidade.







Por conta dos vários desvios de obras os 9 kms aumentam. Encontro o casal italiano, que estava derretendo também, isso por volta de 3 da tarde.
Enfim chegamos juntos a Lugo, eram quase quatro da tarde, estou quebrado. Paramos num bar para selar a credencial e beber algo.
Passamos as famosas muralhas romanas e chegamos ao albergue, que era muito bom. O hospitaleiro chama-se Jose Antonio e é muito gentil, me dá umas dicas e inclusive disse que conhecia o presidente da associação de amigos do caminho de Tineo, Laureano.
Interessante que ele me diz que Palas de Rey, que seria a próxima etapa não tinha nada que ver com o caminho primitivo. Por isso acabo mudando um pouco os meus planos, decidindo ir a San Roman de Retorta e depois a Melide.
Fico um tempão conversando com os senhores espanhóis, que deixariam o caminho para continuar em outro ano. A peruana do dia anterior também pararia por ali. É muito comum as pessoas que não tem tempo suficiente fazer uma parte e retomar em outra ocasião.



Assim, no caminho, que já era bem solitário, restariam Marcos e Rafa (os primos espanhóis), Fabiana e Tommaso ( o casal italiano) e um senhor de Santander (que por sinal estava com tendinite).
Saio para fotografar e vou jantar no Meson Museo, indicado por Jose Antonio. Vou com os italianos e foi bem divertido, pois falamos do caminho. E no final Tommaso fez questão de pagar a conta. Voltamos ao albergue, o meu joelho incomodava um pouco e me lembrei de uma bolha formada pelo esparadrapo que eu tinha justamente posto para evitar a formação de uma outra...
Amanhã a etapa será mais tranqüila.

Outras fotos da etapa Cadavo Lugo

Saturday, December 5, 2009

Etapa 8:Fonsagrada - Cadavo 27,9 kms

30/05








Não dormi muito bem. A cama não era boa e acordo cedo.
Além do mais, as 5:30 da manhã uma peruana se levantou fazendo algum barulho e também sentia dores no joelho.
Por um lado foi bom, pois acabei saindo mais cedo, lá pelas 7:50 e mesmo assim todos já haviam partido.
Tomo o café da manhã tranqüilo. A jornada começa bem, são pouco mais de 7 kms até um antigo hospital de peregrinos e um dólmen (espécie de tumba megalítica, como Stonehenge).



Me estressei um pouco com as distâncias, que nunca batem com o guia, e desse modo se caminha bastante sem ter a certeza de estar na rota certa.
Ao final encontro com Marcos, um dos espanhóis que estavam em Borres.
O lugar é especial e o tempo estava perfeito, apesar do calor.
A paisagem é composta de bastante verde com as ruínas do hospital e alguns moinhos de vento. Fico uma meia hora para fazer fotos e meditar um pouco naquele lugar de muita paz.
Afasto a cerca de arame para chegar perto do dólmen, pois tinha muito mato em volta e não se podia ver muito bem. Não era assim tão impressionante, mas é sempre um dólmen.
Sigo o caminho, por trilha mas ao lado da estrada. A paisagem é muito bonita. Encontro novamente Marcos na descida para Paradavella, onde tinha um bar. Ele foi gentil e me pagou um Kas de Limon (refrigerante).
Continuamos o caminho juntos por um pedaço.
Após certo ponto decido não continuar pela estrada, mas por trilha e com uma subida leve.
Passado um trecho com barro inicia uma subida muito inclinada, que me fez lembrar o Cebreiro (famosa subida do caminho francês). Na verdade depois percebo que era até pior que este.
Não paro e chego no topo praticamente quebrado.
Encontro o casal de italianos logo após o fim da subida e estávamos em La Lastra. Paro em um bar para beber o habitual Kas de Limon e refrescar-me um pouco. Converso com o senhor do bar ‘Casa Miranda’, que era muito simpático e gentil.




Agora o sol estava de rachar e ainda faltam uns dois kms de subida menos forte e outros sete kms até Cadavo.
O caminho continua tranqüilo, mas estou destruído pelo calor. Paro uns 4 kms antes do fim da etapa para almoçar. O joelho está bastante dolorido.
A empanada estava ótima, apesar de muito quente. Depois de uns 40 minutos chego finalmente em Cadavo as 15:00 e após quase 27 kms.
O albergue é bom, mas poderiam melhorar a condição do banheiro...
A cidade tem a fama por uma lenda que diz que ali num lugar chamado Campo de Matanza, Alfonso II teria derrotado um exército de muçulmanos e liberar o caminho de Santiago para os peregrinos.
Fora isso a cidade não tem muito de interessante. Janto tranquilamente fora do albergue e quando volto estão todos fora conversando e entro na conversa.
O joelho está mais ou menos, vamos ver para amanhã até Lugo, que são 30 kms.

Outras fotos - Fonsagrada Cadavo

Thursday, October 22, 2009

Etapa 7: Castro – Fonsagrada 21,8 kms

29/05










Inicio tarde, pois espero pelo café da manhã do albergue, que seria pelas 8:20, mas acabou atrasando um pouco.
O sol já está alto e começo bem a caminhada, em trilha e com sombra.
Nada de subida, caminho bastante rápido nesse trecho, mas um pouco antes de chegar em Penafuente, pego uma estrada asfaltada, com sol e sem proteção. Isso depois de mais ou menos uma hora, paro para um pequeno descanso.
Tem uma fonte com água muito fresca ao lado de uma pequena capela. Céu azul com algumas nuvens e montanhas completam a paisagem.
Após uma meia hora, molho a cabeça e parto.



A trilha continua com uma subida e depois desemboca novamente em asfalto, que o guia indica que deveria segui-la. Se via que era antigo, pois nenhuma das sinalizações correspondia. Bem, no final, depois de mais de uma hora debaixo de sol chego a El Acebo, um bar no meio do nada.
Bebo algo gelado e continuo a caminhar, agora por trilha.
Tudo seria perfeito, não fosse o sol forte. Chego a Fonfria, logo após um pedaço de estrada asfaltada.
Infelizmente já tinha ultrapassado uma fonte para reabastecer e por sorte, um senhor que estava na roça foi gentil e me encheu o cantil.
O caminho continua no sol ao lado de uma rodovia. Parece que não vai acabar mais.
Um pouco antes de Fonsagrada havia duas rotas...
Qual pegar? No guia dizia que uma iria diretamente ao albergue, que era mais para frente do pueblo, mas que valia a pena passar por ele.
Bom, escolho um. Uma bela subida...
Enfim chego a Fonsagrada derretendo... Suado era pouco para definir o meu estado.
Encontro o grupo de senhores espanhóis que estava indo a uma famosa pulperia (restaurante especializado em polvo).

 
 

Decido ir com eles para saber onde era o tal restaurante e no fim foram bastante gentis ao me convidar para comer juntos.
O pulpo a Gallega estava soberbo, acompanhado de vinho Ribeira. Ainda comemos uns croquetes muito bons e finalizamos com torta de Orujo (um tipo de aguardente local, mas que na torta estava desaparecido).
Os senhores espanhóis, quase todos já aposentados são: Victor, Nacho, Felipe, Pedro, Adrian e Lalo.
Muito simpáticos, conversamos bastante, uns são de Salamanca, outros de Alicante, um de Bilbao e outro de Zamora.
O albergue é fora da cidade e caminhamos uns 2 kms. Converso com Pedro, que estava com dois bastões de caminhada, sofrendo bastante para caminhar. Disse-me que teria que parar por conta dos joelhos, visto que já tinha operado e retirado os meniscos. Me deu um pouco de pena, mas são coisas do caminho.
Chegando ao albergue encontro o casal italiano e começo a matraquear sobre o caminho, mas creio que são informações úteis.
Tinha bastante cama, mas o estado é meio deplorável, bem sujo. O chuveiro quebrado, mas com água quente. Resolvo as atividades diárias de um peregrino, ou seja, lavar a roupa, tomar banho.
Saio para voltar para Fonsagrada, pois queria fotografar a cidade. O calor ainda estava de rachar, embora fosse já umas 7 da noite.
Fotografo, compro viveres para o dia seguinte e vou jantar numa outra pulperia famosa da cidade, só que dessa vez como bacalhau, que estava fantástico.




Na TV do restaurante o noticiário dizia que era o dia mais quente do ano...
São 21:10, sol a pico, volto ao albergue.

Outras fotos Castro - Fonsagrada

Tuesday, October 20, 2009

Etapa 6: Berducedo – Castro 25 kms

28/05









Parto cedo, até porque o grupo espanhol acordou fazendo um belo barulho...
Sou o último de qualquer modo. O caminho começa bem, o sol está bonito e a manhã fresca.
De cara uma subida, e logo após chego em La Mesa, um vilarejo muito interessante e simpático.
Não encontro nada aberto e a minha água já tinha terminado, mesmo tendo enchido o cantil em Berducedo.
Inicia uma subida forte de 1,2 kms. Moinhos de vento modernos fazem a paisagem.



Se subir pode parecer uma coisa ruim, me esperava uma descida de 9 kms...
No entanto estou confiante e com gana. Desço rápido com uma vontade que nem me conheço. A paisagem é linda.
Não topo com ninguém e acho estranho, pois com a minha velocidade já teria encontrado o grupo catalão.
Paro apenas uma vez para tomar água e comer pão e queijo que tinham sobrado do dia anterior.
Continuo e avisto um rio lá embaixo, a descida vai até o ‘embalse’ (represa) que é muito sugestivo. O calor começa a me desgastar, até porque estava sem o chapéu, que tinha perdido em algum lugar do caminho.
Atravessada a barragem inicia outra subida forte, só que dessa vez por estrada asfaltada, 4 kms...



A água havia terminado e com o calor a situação começava a endurecer. Continuo a não ver ninguém.
Depois de uma parte por caminho (uns 2 kms de trilha) chego a Grandas de Salime, tudo fechado.
Encontro o grupo catalão num bar da cidade. Não me parecem cansados, visto a minha situação ...
No bar pergunto por comida, mas nada, somente sanduíches.
Peço informações do albergue e a balconista me diz que está em um estado de miséria. Decido esperar e seguir para Castro, que estava a 5 kms mais adiante.
A garota do bar me diz que seria melhor telefonar para reservar, pois o albergue era particular. Para um peregrino, reservar um leito não é nada agradável, mas dada a situação eu não tinha muita escolha.
Espero mais um pouco para sair, pois o calor estava muito forte, nisso abrem as lojas e aproveito para comprar um chapéu para o sol (um tanto cafona, mas necessário) e um lenço para o pescoço.










Os últimos 5 kms são bastante cansativos, mas chego a Castro e encontro Tommaso e Fabiana, o casal italiano.
O albergue é bem ajeitado, é de peregrinos, mas com um certo luxo, como toalha e lençóis. Os outros peregrinos espanhóis estão por lá.
Depois de um bom banho e fazer a barba faço uma caminhada pelo pueblo.
Além de uma pequena capela (com uma característica um tanto diferente, mas comum em toda a região) descubro um sitio arqueológico de um antigo castro romano.
Uma colônia com datas de 800 a.C. Os romanos estavam bastante nessa zona devido à quantidade de ouro, como tinha notado na etapa do dia anterior.



Nesse exato momento estou escrevendo sentado debaixo de uma sombra de árvore, com um vento refrescante, pássaros cantando e uma vista do castro e montanhas ao longe.
Retorno ao albergue, passando pelo pueblo, que deve ter umas 15 casas no máximo.
A noite foi tranqüila, apesar dos roncos do companheiro peregrino de quarto. Nem com tapa ouvido, que serviu somente para suavizar o barulho, pelo menos...

Outras fotos Berducedo - Castro

Continuando após um longo intervalo

Gostaria de me desculpar com os meus leitores depois de tanto tempo sem escrever sobre o caminho.
São coisas difíceis de explicar, um pouco de falta de tempo, um pouco de marasmo...
Mas vamos lá, retomo o rumo do caminho, que ainda tem muito o que contar!

Wednesday, July 29, 2009

Etapa 5: Borres – Berducedo (Hospitales) 26,5 kms

27/05



Dormi e acordei com tranqüilidade, afinal éramos somente quatro pessoas no albergue.
Ninguém roncava e fui o primeiro a levantar, por volta das 7.
Sai para o teoricamente “muito duro” caminho de ‘Hospitales’.
O dia está maravilhoso, céu completamente azul e temperatura por volta dos 20 graus.
O caminho inicia com duras subidas e alguns planos.
Chego onde o caminho se bifurca e olho com dupla atenção para pegar a rota de ‘Hospitales’.



A paisagem é linda, montanhas, muito verde, pássaros cantando.
Paro num resto de hospital de peregrinos, Paradiella, do século XV.
Nesse momento tem uma subida diante de mim que até dá medo.
No início da trilha cavalos brincam, bois e vacas descansam na grama, todos juntos e soltos.
Sinto certo temor em ter que passar no meio deles todos. Mas sigo sem problemas.
Após a forte subida, a vista das montanhas que estão mais perto é deslumbrante, além de outras nevadas, ao longe.




O ar é fresco e nenhuma nuvem, o caminho é duro, mas aceitável.
Sinto-me realmente bem, com uma paz interior incrível.
Nenhum peregrino, solidão total.
O guia não estava muito fiel com as distâncias até aquele momento, mas a parte dos hospitais estava bem indicada.
Chego às primeiras ruínas de hospital de peregrinos: Fonfaraón.
Sugestivo e imerso numa paisagem belíssima.
O local é num alto de montanha completamente abandonado. Como o meu sanduíche tranquilamente e depois continuo o meu rumo.
Um pouco depois, em uma espécie de planície, vejo um pequeno lago ao longe, com bois, vacas e alguns bezerros.
Aproximei-me, mas não parecem nada amistosos, faço algumas fotos e vou embora.
O caminho continua num sobe e desce até chegar em uma outra ruína de hospital, chamado Valparaiso.



Pelo guia, devo estar no final do trecho de ‘Hospitales’, e então chego a um ponto onde existem duas opções (de acordo com o guia).
Vou pela que me parece mais interessante, onde passaria por uma antiga região de extração de ouro dos tempos romanos.
Ate’ aquele momento tudo bem, mas o calor começava a me cansar. E o joelho acusava um pouco de dor.
Um ponto de descida chega e muito mal sinalizado, com flechas confusas.
Por sorte avisto um sinal do caminho no final da dela, mas como tinham trilhas estreitas e mal sinalizadas perdi um pouco de tempo e paciência.
No final tinha uma placa explicativa sobre a exploração de ouro pelos romanos. História, técnica e outras informações.



Basicamente eles colocavam madeiras e recipientes com água e depois faziam fogueiras, quando a água estava fervendo eles soltavam tudo e água descia destruindo toda a montanha fazendo assim com que o ouro saísse das suas entranhas.
Em teoria mais uma subida forte e eu chegaria a Montefurado, mas o guia estava meio enganado...
Começo a me impacientar com a falta de precisão, pois estou cansado e com muito calor, além de queimado pelo sol.
Chegando ali tinha uma capela, mas não vejo o Santiago do guia, então suponho que não era bem aquela....
Mais um pouco de má sinalização e uma coisa um pouco grave é que a minha água tinha se acabado e Lago (próximo pueblo) estaria a 3kms ainda.
O calor estava de rachar.
Começo a me impacientar, pois já se haviam passado pelo menos 5kms.
Pelo menos em Lago consigo matar a sede, o local é muito pequeno e me faltam 4kms para chegar ao final da etapa. Por sorte havia sombra.
Finalmente, as 18:00 chego em Berducedo.
E com muita sorte encontro a penúltima cama livre no albergue, que estava com um grupo grande de espanhóis. Era a primeira vez que os via. Todos dormiam...
Vou ao bar para pagar a taxa de 3 euros e descubro que não fazem janta...
Vou a outro bar, muito bonitinho para aquele fim de mundo e também não fazem comida, como dizia no guia.
Entro no último e tenho quase que implorar para uma senhora com uma cara meio amarrada para me fazer uma tortilla. Ela me disse que teria que ser cedo, pelas 20:00 e eu digo que não tinha problema, afinal durante o dia o meu almoço tinha sido somente sanduíche.
Como combinado retorno para jantar.
E incrível que a senhora tinha o semblante fechado.
Tentei de tudo para ser amável e agradecer a sua gentileza, mas ela não se abria.
Percebi que ela até queria ser mais amável, mas não queria demonstrar.
Pude constatar isso, pois além da tortilla ela me preparou um bife e depois me serviu morangos de sobremesa.
Após jantar vou ao outro bar, pois havia a partida final da Champions League, Barcelona e Manchester.
Obviamente tinha um monte de espanhóis torcendo pelo Barça e tenho que dizer que eu também.
Durante a partida filmam o Berlusconi dormindo na tribuna, penso comigo mesmo que era uma vergonha e que no dia seguinte os jornais tirariam o maior sarro.
A partida termina 2X0 para time da Espanha, vou dormir escutando foguetes naquele finzinho de mundo.
Pelo menos estava contente também.