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Tuesday, July 28, 2009

Etapa 4: Tineo - Borres 15,2 km

26/05



Como de costume os aposentados espanhóis acordaram pelas seis da manhã, fazendo um belo barulho...O pior foi que lá pelas 6:30 acenderam a luz e não estavam nem aí para as pessoas que continuavam dormindo.



Inicio a caminhada por Tineo, sob chuva fina.
Para sair da cidade, uma ladeira íngreme me esperava. Uma longa subida, com uma fonte simples e bonita.
A paisagem é estupenda, não dava a impressão de estar na Espanha.
Colinas verdes com vacas pastando.
O caminho tinha menos lama e topo com duas mulheres alemãs (Freya e Ulli) que estavam no albergue e outros espanhóis. Mais adiante o casal italiano.
Faço uma pausa no meio de um bosque para escutar os pássaros que cantavam em um momento de muita paz.
O caminho continuou tranqüilo em meio a bosques e sem indícios de civilização.
Faço um pequeno desvio para ir a um monasterio abandonado do século XIII, chamado Obona.
Infelizmente abandonado...





Chegando a Campiello entro no local indicado no guia de Tineo para almoçar e comprar as provisões para o dia seguinte, pois no albergue não teria como comprar os víveres.
Sinal de alguns peregrinos, mas no fundo a maioria seguiria para Pola de Allande, pois até Borres a etapa era curta e ficam em Borres em geral as pessoas que seguiriam pela rota de ‘Hospedales’, como no meu caso.




Encontro de novo Freya e Ulli no restaurante-mercadinho, que caminhavam mais lentamente. Noto que não falam bem inglês, muito menos espanhol, e assim decido ajudá-las com o almoço.
A mulher do restaurante, Herminia, me diz que o albergue de Borres está lotado e que ela tem quartos para alugar.
Eu já tinha sido avisado em Bodenaya que ela tentaria fazer essa proposta e apesar de ser muito simpática não acreditei muito e tinha que seguir estrada de qualquer forma.
As alemãs decidem ficar. Comemos juntos e conversamos, foi bom, pois sinto pena das pessoas que não conseguem se comunicar bem no caminho, que para mim é uma das coisas mais importantes dele.
Comi muito bem, comida simples, sopa de verduras com feijão e chorizo em abundância e muito boa.
Terminando de comer peço para selar a credencial, e Herminia o faz colocando uma mensagem personalizada.
Sigo até Borres, uns 2 ou 3kms mais adiante por uma carretera pequena.
O pueblo é muito pequeno e chegando ao albergue encontro dois espanhóis.
Creio que era por volta das 3 da tarde.
O albergue é pequeno, mas somente nós três estávamos por ali, então percebi que o discurso de Herminia, que apesar de ser muito simpática, tentava, claro ganhar um dinheiro a mais com os seus quartos.
Converso bastante com eles, são primos, Marco e Rafael, de Valencia. Não são muito velhos, mas um é já aposentado por antecipação.
Depois de lavar a roupa, saio e vejo que eles estão conversando com um senhor de idade.
Me junto a eles para escutar a conversa.
O Sr Alfredo (assim se chamava) começa a falar da guerra civil espanhola e das dificuldades daquele período. Fala da segunda guerra também, ele é muito simpático, tem 90 anos e usa muletas.
Tentei fotografá-lo, mas ele não me permitiu.
Fomos fazer uma visita ao pueblo e topamos com uma igreja pequenina, mas muito bonita, Santa Maria.
Improvisamente na casa ao lado uma porta se abre e uma senhora começa a conversar conosco. É a dona Adelina, mais conhecida como Mamina, assim como estava escrito em uns azulejos na fachada da sua casa.




Ela foi bastante gentil e nos abriu a igreja, pois a chave ficava com ela.
Retornamos ao albergue para jantar, e incrivelmente, pelas 20:00 chega um peregrino francês que vinha de Salas, ou seja, mais de 40 kms!!
Um tipo verdadeiramente estranho, falava sozinho ...
Vou dormir, pois o dia seguinte seria duro, com a travessia de Hospedales.


Sunday, July 12, 2009

Etapa 3: Salas - Tineo 19,1 km

25/05



Acordo com calma. A noite não foi perfeita, provavelmente uma rinite me deixou com garganta completamente seca e acordei várias vezes para beber água.
Saio para fazer umas fotos de Salas com mais calma e comer algo.
Finalmente consigo entrar na igreja, que estava fechada no dia anterior, nada de excepcional, mas com um altar bonito, com a típica estátua de Santiago Matamoros, em seu cavalo.





Como de costume inicio tarde, pelas 9:35, afinal também não era uma etapa longa.
Já se haviam passado mais de 40 minutos de subida, e apesar de suar copiosamente, os meus passos continuavam firmes e decididos. Caminhava com uma raça que quase não me reconhecia.
Era certamente um efeito do caminho.
E além da vontade de continuar com aquela enorme determinação, me vinham pensamentos um tanto poéticos.
Não era uma surpresa para mim, pois senti coisas semelhantes nos outros caminhos que havia feito no passado.
Sem nenhuma pretensão de fazer poesia, até porque não creio de possuir essa vocação, transcrevo um desses pensamentos:

Enquanto gotas de suor vão caindo incessantemente
Meus pés caminham por entre lamas e pedras
Um rio passa lá embaixo
Passo por entre árvores de um bosque refrescante
Sinto o calor de meu corpo
Uma antiga ponte de pedra chega
Paro e começo a refletir
Sobre a mesquinhez dos seres humanos




Terminando a longa subida e com a mesma força de antes, continuo por uma parte de rodovia, com canteiros de obra e muito chata.
Passada essa parte, estou bastante cansado, mas chego a um albergue muito bonitinho e paro para selar a credencial e encher o cantil.
Converso bastante com um dos hospitaleiros, que infelizmente não me lembro do nome. No meio tempo chega outro peregrino, finalmente, pois era o primeiro que eu via chegando depois de mim.
Pareceu-me um tanto desengonçado, tinha estatura baixa e era bastante robusto.
Ele pede informações ao hospitaleiro sobre um determinado caminho, fora daquele habitual indicado nos guias. Me junto a eles na discussão, pois essa outra rota me parecia mais interessante.
Era chamado Camino de Hospitales, e passava por antigos hospitais de peregrinos. E ali comecei a pensar na idéia de mudar ligeiramente o itinerário aconselhado.
O peregrino queria continuar até Borres, 16 kms além de Tineo, pensei comigo mesmo que o cara tinha que ter uma bela coragem, pois seria uma etapa com mais de 40 kms.






Ele continua e eu o saio logo após. Depois de um quilometro, mais ou menos, ele me espera e iniciamos a caminhar juntos.
Se chama Lalo e é galego, pouco mais de 50 anos. Me contou de sua família, da esposa e dos filhos grandes.
Foi uma ótima companhia por um caminho extremamente aborrecido, com muitos lamaçais em caminhos de bois. Desnecessário dizer que além da lama tinham outros elementos misturados J Mas fora isso a paisagem era muito agradável.
Chegamos por volta das 15:30 em Tineo. Sem fazer paradas e sem comer nada...
Por sorte na entrada da cidade uma fonte é providencial para lavar as botas.
Ali me despeço de Lalo, que prosseguiria até Borres.
Passo pela capela de São Roque, santo peregrino como Santiago.
Finalmente chego ao albergue, muito bom e com bastante espaço.
Consigo lavar e pendurar as roupas e ainda daria tempo para comprar um cajado e um chapéu, pois tinha perdido o meu em qualquer lugar do caminho.
Começa a chover...
Entro em várias lojas e nada, até que entro numa ‘ferreteria’ (lugar que vende ferragens). Não tinha o chapéu, mas encontro o cajado. O rapaz me diz que eu poderia encontrar o chapéu talvez num negócio de roupas e que também ali selavam a credencial.
Achei estranho, mas de qualquer jeito entro na loja, que na verdade vendia mais roupa intima.
Obvio que não tinha o chapéu... Mas converso com o dono, e descubro que é o presidente da Associação de Amigos do Caminho de Tineo. É Laureano. Foi muito gentil e me deu um monte de informações, principalmente sobre o caminho de Hospitales, além de me dar um guia muito melhor do que eu havia imprimido por internet. Esse guia tinha muito detalhado as etapas do caminho primitivo.
São as coincidências do caminho, não encontrei uma coisa, mas me levou a tomar uma decisão, que seria de fazer o caminho mais original, o de Hospitales.
Volto ao albergue, munido agora de um cajado, para ir jantar num restaurante simples, mas com comida abundante. Cocido madrileno era o prato inicial, grão de bico com chorizo e outras coisas como joelho de porco. O segundo prato, para minha surpresa, língua, que não comia há mais de 10 anos. Provavelmente muita gente não seria capaz de comer, mas uma das coisas que aprendi na minha vida é que não podemos ser tão exigentes e muitas vezes devemos nos contentar com o que temos e agradecer por ter tido a oportunidade.
O albergue estava quase cheio, reencontro o senhor francês, o grupo de aposentados espanhóis e pela primeira vez converso com Fabiana e Tommaso, o casal italiano com o qual estabeleceria uma relação de amizade mais tarde.
A francesa do sorriso do primeiro dia e o rapaz que tinha partido da França haviam ‘desaparecido’ do caminho.
Era o final da terceira etapa.