Tuesday, December 8, 2009

Etapa 11: San Roman de Retorta - Melide 30 kms

02/06






A jornada deverá ser dura até Melide, são 30 kms. A meteorologia promete 35°C.
Cuido de uma bolha da Fabiana. Eles ficam agradecidos, mas na verdade não fiz nada. Eles não tinham a experiência e os materiais necessários.
Eles saem primeiro, eu fico mais um pouco para preparar os sanduíches para o caminho.
São 8 da manhã e tem muita neblina, que ajuda a fazer da paisagem uma coisa bem misteriosa. Fotografo sem dúvida.





Paro em Ponte Ferreira, com uma antiga ponte romana, pelas 10:15.
Muitas subidas e descidas, mas a temperatura está agradável. Na altura de Merlan deixo passar um sinal do caminho...
E fui perceber que estava no caminho errado somente 3 kms depois... O que me significaram 6 de penalização. E o problema seria enfrentar o calor.
É já meio dia e o sol escaldando. Caminho até umas 13:30. Não parei, passo por paisagens lindas, com um antigo hospital de peregrinos no alto de uma montanha. Continuo, faço uma curva para começar a descida e uma garota de uns 25 a 30 anos que estava na porta de sua casa me pergunta se quero água, café ou algo. Chama-se Mapi, ou Maria Pilar.
Ela me convida para entrar, fico meio indeciso, mas o cansaço e a sede falaram mais alto.
Mapi é muito simpática, e tem seis cachorros! E vivem todos dentro da casa. Ela começa a me contar que havia decidido mudar de vida e comprado aquela casa havia 3 anos, depois de fazer o caminho de Santiago.
Me fez lembrar o Arroyo Sambol ou mesmo Manjarin, lugares especiais e meio loucos do caminho francês.
E incrivelmente ela me diz que tinha sido hospitaleira em Sambol...
Conversamos bastante e tomo o habitual Kas de Limon. Ela me fala que aprende violino e que conhece o calendário maia.



Para sobreviver ela faz artesanato e vende aos peregrinos que passam. Me pareceu um bicho grilo, mas vejo que tem a cabeça no lugar. Deixo uns 5 euros de donativo.
Nos despedimos num abraço caloroso. Retomo a caminhada e são passadas 3 da tarde... o que significa que tinha ficado mais de uma hora e meia falando com ela.
O sol piora e não tinha comido nada, tirando a laranja na ponte romana. Vou começando a perder as forças e ainda me faltam uns 14 kms. Paro para comer e repor energias lá pelas 16:00.
Mas o estrago já estava feito com o atraso e o calor. Parece que Melide não chega nunca, mas afinal chego debaixo de um sol terrível e por um caminho mais longo que o francês.
São 18:15 e estou em estado piedoso, mais de 10 horas de caminhada e afinal 36 kms com o desvio.
Estou tão cansado que começo a reconsiderar os meus planos. Penso em não fazer os 30 kms de amanhã e saltar Finisterre. Mas vamos ver.
Nem lavo as roupas. Saio para rever a cidade e ir comer o famoso pulpo do Ezequiel (famosa pulperia, onde sempre havia comido nos outros caminhos). Janto junto com o casal italiano.
E o polvo não me decepciona, está tão bom quanto no passado, embora o restaurante estava bem diferente, renovado e maior.
Conversamos e acompanhamos a festa de uns peregrinos espanhóis que estavam numa outra mesa.
Saímos do restaurante e tomamos um café e orujo. Amanhã será outro dia... até Santa Irene, que está somente a 23 kms de Santiago.










Outras fotos San Roman Melide

Etapa 10: Lugo - San Roman de Retorta 20 kms

01/06







Apesar de o albergue ser muito bom em Lugo, dormi mal por conta de provavelmente um dos maiores roncadores da terra.
Nem escutando o IPOD com fone de ouvido... Tive que mudar de cama.
De manhã acordo com a garganta ruim e sem voz. Espero não pegar uma gripe forte.
O dia amanhece com névoa e assim a cidade fica com um aspecto interessante e assim decido passear por Lugo para fotografar.




Ela me faz lembrar um pouco Santiago. Tomo o café da manhã em um bonito bar e depois vou em busca de uma farmácia para ver se resolvo a questão da garganta e da voz (acabo comprando um remédio para faringite). Aproveito para fazer uma parada num pequeno supermercado e preparar o almoço do dia.
Atravesso uma ponte romana, a temperatura está fresca e coloco o pile para proteger a garganta.
A paisagem está bonita, inicio uma subida em trilha. Ao final desta uma pequena estrada asfaltada.
O sol forte mais a monótona estrada dão o tom do dia. Decido fazer o caminho com calma fui sair realmente de Lugo lá pelas 9:15.
Encontro uma fonte com bancos de madeira, onde me sento e relaxo uns 10 minutos. Logo depois uma indicação de um bar em San Vicente Del Burgo (chamado Searas).
Tomo um café com orujo (aguardente) e começo a conversar com um senhor. Fico meia hora e vejo que ele fala com certa desilusão do caminho, pois este estava muito asfaltado. A senhora do bar me aconselha a tomar um orujo, que faria bem para a minha garganta...
Continuo e a um certo ponto encontro uma indicação de um lugar histórico chamado Santa Eulalia de Boveda.




O meu guia indicavam 3 kms fora da rota, e decido usar a tecnologia para verificar. Com o meu celular acesso a internet e vejo que são na verdade 2,3 kms e assim decido aumentar de quase 5 kms o meu itinerário.
A estrada não era ruim, asfaltada e chego a um pueblo pequenino, sem nada e sem ninguém, mas interessante. No final, vejo que o lugar histórico não é mais que um pequeno templo (ou casa) romano.
Não tem ninguém por lá, apenas um senhor que estava consertando o muro da entrada. Ele me dá alguns folhetos do lugar, dizendo que a construção é romana. Tem apenas uma sala, com uma piscina (ou fonte) na entrada e alguns afrescos. Tiro umas fotos e para variar começo a falar com o senhor, que se chama Casemiro e é casado com uma brasileira de Recife. Conversamos bastante sobre vários assuntos, muito gentil e simpático.
Peço para tirar uma foto dele, que ele aceita sem problemas e um pouco depois me oferece uma carona até o ponto de retomada do caminho. Como ‘bom peregrino’ não aceito muito gentilmente, pois estou bem e prefiro andar.
Fico contente com o ocorrido, pois é o conceito de caminho que tenho na minha cabeça e que gosto tanto. A caminhada segue monótona pelo asfalto. Paro e como algo.
Chego a um bar próximo do destino do dia e bebo um suco de ananás, que com o calor que fazia caiu fantasticamente.
Chegando em San Roman vejo a igreja românica com um cemitério ao lado. Pergunto no bar Jaime onde ficava o albergue, que na verdade é a uns 750 mts mais adiante.
O lugar é especial, a casa é de pedra e fica no meio de um bosque. Entro e encontro os dois primos espanhóis e o casal italiano. Além deles tem mais duas senhoras holandesas.
Nesse dia recebo a triste notícia da queda de um avião da AirFrance que tinha partido do Brasil, com 228 pessoas. Peço a Deus que os proteja.
Decidimos fazer a janta para todos e vamos comprar a comida no bar Jaime, que ficava no pueblo. Começo a tagarelar com o dono, que era galego. A tentativa de falar meio português é sempre complicada, pois o galego não é tão parecido assim. Compramos vinho feito por ele, sem química.
Preparamos a janta juntos e foi uma pequena festa, com os italianos preparando uma bela pasta.
Foi uma bela confraternização, afinal éramos poucos: eu, Tommaso, Fabiana, Marcos e as duas holandesas. O primo de Marcos não estava bem e acabou passando o jantar.



O vinho ajudou um pouco, afinal foram um litro e alguma coisa e ele somente parecia leve...
Ainda voltei ao bar com Tommaso e Fabiana, para selar a credencial e um café. Agora não estava o dono, mas sua esposa, que também era bastante gentil. Para dormir bem ainda tomo um orujo de yerbas, saindo um pouco da dieta, mas poço dizer que mereço.

Outras fotos Lugo San Roman de Retorta

Monday, December 7, 2009

Etapa 9: Cadavo - Lugo 31,5 kms

31/05








Durmo com um calor danado. Acabo tirando a camiseta, mas a escolha não foi das melhores, pois acordo com princípio de dor de garganta.
Consigo sair cedo, pelas 7:30. Mas como a sinalização não estava boa acabei perdendo uns 20 minutos só para sair da cidade.
A manhã está meio fria, e o caminho inicia com uma subida leve. Logo encontro uma fonte.
Pouco asfalto e antes de Villabade uma bela igreja no meio de um bosque. Saio da trilha e vou de encontro a uma fonte que estava na frente dela. Não obstante estava somente com uma hora de caminhada paro, pois o lugar tem um clima especial.





Sigo e chego a Villabade, onde tem outra bela igreja. Mas é domingo e o pequeno vilarejo tem ares de cidade fantasma. Nesses lugares pequenos somente se vê o pessoal que trabalha no campo, pois fim de semana praticamente não existe.
O calor vai apertando, mas por sorte tem muita sombra no caminho.
O joelho não incomodava, provavelmente porque estava aquecido. Em Castroverde paro para tomar um café. O rapaz do bar pergunta se quero que ele coloque um pouco de orujo (aguardente)... Não precisa dizer que aceitei.
Faço umas fotos e sigo em frente, sempre sem encontrar uma alma viva. O caminho segue por pequenas estradas secundárias asfaltadas e algumas trilhas de terra.
Passo por vários pueblos, mas nenhum ponto estratégico onde se poderia sentar para uma parada. Era quase meio dia e começo a me cansar.
Em Gondar vejo uma placa dizendo ‘Bebidas frias’ e fico contente, pois imaginava um bar, mas qual a minha decepção ao ver que era apenas uma máquina de latinhas... no meio do nada.
Consigo parar quando faltam uns 9 kms para Lugo e sinto que estava para se formar alguma bolha no pé.
Almoço e descanso por uns 40 minutos. Continuo com um calor terrível, mas mesmo assim sigo com uma boa velocidade.







Por conta dos vários desvios de obras os 9 kms aumentam. Encontro o casal italiano, que estava derretendo também, isso por volta de 3 da tarde.
Enfim chegamos juntos a Lugo, eram quase quatro da tarde, estou quebrado. Paramos num bar para selar a credencial e beber algo.
Passamos as famosas muralhas romanas e chegamos ao albergue, que era muito bom. O hospitaleiro chama-se Jose Antonio e é muito gentil, me dá umas dicas e inclusive disse que conhecia o presidente da associação de amigos do caminho de Tineo, Laureano.
Interessante que ele me diz que Palas de Rey, que seria a próxima etapa não tinha nada que ver com o caminho primitivo. Por isso acabo mudando um pouco os meus planos, decidindo ir a San Roman de Retorta e depois a Melide.
Fico um tempão conversando com os senhores espanhóis, que deixariam o caminho para continuar em outro ano. A peruana do dia anterior também pararia por ali. É muito comum as pessoas que não tem tempo suficiente fazer uma parte e retomar em outra ocasião.



Assim, no caminho, que já era bem solitário, restariam Marcos e Rafa (os primos espanhóis), Fabiana e Tommaso ( o casal italiano) e um senhor de Santander (que por sinal estava com tendinite).
Saio para fotografar e vou jantar no Meson Museo, indicado por Jose Antonio. Vou com os italianos e foi bem divertido, pois falamos do caminho. E no final Tommaso fez questão de pagar a conta. Voltamos ao albergue, o meu joelho incomodava um pouco e me lembrei de uma bolha formada pelo esparadrapo que eu tinha justamente posto para evitar a formação de uma outra...
Amanhã a etapa será mais tranqüila.

Outras fotos da etapa Cadavo Lugo

Saturday, December 5, 2009

Etapa 8:Fonsagrada - Cadavo 27,9 kms

30/05








Não dormi muito bem. A cama não era boa e acordo cedo.
Além do mais, as 5:30 da manhã uma peruana se levantou fazendo algum barulho e também sentia dores no joelho.
Por um lado foi bom, pois acabei saindo mais cedo, lá pelas 7:50 e mesmo assim todos já haviam partido.
Tomo o café da manhã tranqüilo. A jornada começa bem, são pouco mais de 7 kms até um antigo hospital de peregrinos e um dólmen (espécie de tumba megalítica, como Stonehenge).



Me estressei um pouco com as distâncias, que nunca batem com o guia, e desse modo se caminha bastante sem ter a certeza de estar na rota certa.
Ao final encontro com Marcos, um dos espanhóis que estavam em Borres.
O lugar é especial e o tempo estava perfeito, apesar do calor.
A paisagem é composta de bastante verde com as ruínas do hospital e alguns moinhos de vento. Fico uma meia hora para fazer fotos e meditar um pouco naquele lugar de muita paz.
Afasto a cerca de arame para chegar perto do dólmen, pois tinha muito mato em volta e não se podia ver muito bem. Não era assim tão impressionante, mas é sempre um dólmen.
Sigo o caminho, por trilha mas ao lado da estrada. A paisagem é muito bonita. Encontro novamente Marcos na descida para Paradavella, onde tinha um bar. Ele foi gentil e me pagou um Kas de Limon (refrigerante).
Continuamos o caminho juntos por um pedaço.
Após certo ponto decido não continuar pela estrada, mas por trilha e com uma subida leve.
Passado um trecho com barro inicia uma subida muito inclinada, que me fez lembrar o Cebreiro (famosa subida do caminho francês). Na verdade depois percebo que era até pior que este.
Não paro e chego no topo praticamente quebrado.
Encontro o casal de italianos logo após o fim da subida e estávamos em La Lastra. Paro em um bar para beber o habitual Kas de Limon e refrescar-me um pouco. Converso com o senhor do bar ‘Casa Miranda’, que era muito simpático e gentil.




Agora o sol estava de rachar e ainda faltam uns dois kms de subida menos forte e outros sete kms até Cadavo.
O caminho continua tranqüilo, mas estou destruído pelo calor. Paro uns 4 kms antes do fim da etapa para almoçar. O joelho está bastante dolorido.
A empanada estava ótima, apesar de muito quente. Depois de uns 40 minutos chego finalmente em Cadavo as 15:00 e após quase 27 kms.
O albergue é bom, mas poderiam melhorar a condição do banheiro...
A cidade tem a fama por uma lenda que diz que ali num lugar chamado Campo de Matanza, Alfonso II teria derrotado um exército de muçulmanos e liberar o caminho de Santiago para os peregrinos.
Fora isso a cidade não tem muito de interessante. Janto tranquilamente fora do albergue e quando volto estão todos fora conversando e entro na conversa.
O joelho está mais ou menos, vamos ver para amanhã até Lugo, que são 30 kms.

Outras fotos - Fonsagrada Cadavo